|| Oh Paris ...
Atualizado: 23 de nov. de 2020
Oh Paris …
Nunca foste um destino de sonho para mim, por isso achei que esta altura do ano ia ser a ideal para te visitar. O espírito natalício deixa qualquer destino mais aliciante.
O entusiasmo para ir era pouco. Coisas aconteceram na minha vida e eu simplesmente queria estar no meu canto com a minha negatividade e tudo de mau que estava a acontecer aqui no meu pequeno mundo. Mas fui, tinha de ir, a viagem já estava planeada, o roteiro feito e eu tinha que reagir.
A primeira impressão foi negativa, deparei-me com uma cidade demasiado cinzenta para ser a dita famosa cidade do amor. Não sei, talvez a expetativa estava demasiado elevada por ser a paixão de tanta gente ou talvez por estar a compará-la com outras cidades que já visitei. Algumas ruas têm o seu próprio encanto, mas as pessoas que as frequentam têm um Q de estranheza.
No entanto, mal subi toda a escadaria que leva à Basílica de Sacré Coeur em Montmartre o meu coração disparou. Redescobri uma cidade vista do alto com um horizonte fascinante. A cidade cinzenta refletia o pôr do sol que se fundia com as primeiras luzes da cidade ao anoitecer.
Não fomos propriamente tratadas com desprezo por sermos turistas, como sempre ouvi dizer que ia acontecer. Aconteceu um caso ou outro, mas nada demais. De resto sempre que convivíamos com os franceses eles mostraram-se recetivos e agradáveis, alguns até se metiam connosco de forma engraçada e positiva.
Assim, tentamos dar uma e outra oportunidade às pessoas e aos lugares. Tentámos. O paradoxo de amor e ódio pela cidade fazia uma batalha no nosso coração. No entanto, o ódio ganhou a batalha com os acontecimentos do último dia. Vimo-nos, por engano, no meio de uma cidade revoltada, onde o ódio pairava no olhar dos habitantes e o pânico no olhar dos que a visitavam. Sentimos um medo atroz na pele. Literalmente. Os olhos ardiam, a pele ardia, não dava para respirar. Estávamos no local errado à hora errada. Neste caso no metro, tínhamos ido lá parar depois de uma série de acontecimentos, inclusive alguns que no deixaram com medo do que estava a acontecer na superfície. Só queríamos chegar ao aeroporto para voltar para casa. Se conseguimos nesse dia? Não, acabamos no chão de uma estação de comboios bem longe do centro da cidade, sem sabermos o que fazer. Só rimos para não chorar. Tínhamos andado horas a correr, com as malas às costas, de um lado para o outro a tentar arranjar forma de chegar ao aeroporto. Foi tudo em vão. Estações de metro estavam fechadas, quando tentamos sair para o comboio levamos com gás lacrimogéneo na cara. Só fugimos. Só queríamos um dia sossegado de regresso a casa. Só queríamos o que não aconteceu.
Oh Paris, vimos-te estilhaçada. Uma cidade com o seu encanto a tornar-se ainda mais cinza pelos próprios habitantes. Nós tentamos gostar de ti, mas desculpa nunca ficamos tão felizes de voltar a casa.
Oh Paris ...
xx
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