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|| Perdeste-a

Foto do escritor: Cátia SilvaCátia Silva

Atualizado: 23 de nov. de 2020

Perdeste-a. Perdeste o ser mais especial que tinhas na tua vida. A tua melhor amiga. O teu amor mais puro.

Molly, eu sei, era como se chamava. Era uma Yorshire Terrier maravilhosa. Foi mãe, foi amiga, foi o teu porto de abrigo, foi tudo, ou, quase tudo o que tinhas na tua vida.

Foi atropelada naquele final de tarde, sem sentido aparente. Já estávamos na hora de inverno, por isso, já estava escuro. Ela correu para a estrada como se não houvesse amanhã, e não houve, para ela. Mas há para ti!

Eu sei. A vida está a custar a passar. Parece que tudo acabou e que não há mais motivos para sorrir. Mas, ao contrário daquilo que tu pensas, tu não tiveste culpa. Ninguém teve culpa. Nem mesmo o ‘monstro’ que ia a conduzir o carro que, possivelmente, nem reparou nela. Estava de noite, ela foi a correr para o abismo e acabou por cair. Tu não tinhas como a amparar. A queda foi demasiado grande.

Eu sei. Agora não vais ter a mesma alegria quando chegares a casa. Não vais ter aquele ser que se deitava em cima de ti como se isso fosse a melhor coisa do mundo. Também não vais ter alguém como sombra a dar cada passo que dás. Aparentemente tudo parece igual, mas ao mesmo tempo tudo mudou. Foram duas perdas em muito pouco tempo, as tuas perdas, as tuas dores. Ainda não estavas curada quando a vida decidiu ferir-te de novo. A ferida foi reaberta: como se duas mãos fizessem força para cada um dos lados, a sangue frio. A Chanel - a filha - também desapareceu do mundo, uns meses atrás, como um vou ali e já venho. O porquê? Não sei, e que nem te passe pela cabeça que merecias toda essa dor. A vida consegue ser má e já tiveste provas disso.

Eu sei. Parece que a vida deixou de ter graça. Os dias mudaram. Parece que tudo ficou cinzento e que não há a iminência de um arco-íris, mas não te martirizes com aquilo que não depende de ti. Tens direito ao teu luto, aliás tens de o fazer. Não como se te estivesse a obrigar a alguma coisa, mas deves fazê-lo. É importante que toques na ferida, por mais que doa, para que ela sare. Chora. Deita tudo cá para fora. Chora como se não houvesse amanhã. Fica no teu casulo ou vai espairecer. Apenas faz aquilo que te faz sentir melhor. Vive o teu luto à tua maneira e no teu tempo. O importante é que vivas a tua dor, porque tens que a viver, seja de que forma for, e, em momento algum duvides daquilo que sentes.

Eu sei. Achas que as pessoas vão achar que estás a fazer uma tempestade num copo de água; ou que a tua dor é apenas uma estupidez visto que estamos a falar de animais; ou até que tudo isto era desnecessário. Mas não! Eram os teus animais, os teus seres, as tuas melhores amigas, os teus amores. Foi a Molly, o ser que te mostrou o significado do amor genuíno, foram anos da tua vida, foi a tua companhia nos momentos mais difíceis e nos melhores momentos também. Viveram lutas, travaram batalhas. Não nos sentidos literais das palavras, mas elas estavam lá para ti, para que quando caísses elas se deitassem ao teu lado para te lamber a cara até teres forças para te levantar. Essa foi a vossa vida. A vossa história. E, infelizmente, só restas tu para a contar. Por isso, seja em que circunstâncias for, não te preocupes com o julgamento dos outros. Sim. Eu sei. Há quem não vá compreender e eu também sei que tens medo disso, mas não te preocupes. Cada dor é uma dor, cada caso é um caso e cada pessoa é uma pessoa.

Todos somos diferentes. Eu compreendo-te e também sei o quanto dói. Fogo, como dói! Por isso, não te voltes a martirizar por aquilo que os outros acham. Olha para ti com os teus olhos e não com aquilo que achas que os outros veem. Tu perdeste um pouco de ti. A tua rotina foi alterada, duas das razões do teu sorriso deixaram de existir e isso é grande. É muito. É forte!

Estás mal e não há mal nenhum nisso. Tudo o que tu vives é vivido por ti, só por ti e só tu sabes aquilo que essa vivência te traz. Quem vê de fora vai sempre inferiorizar aquilo que fazes ou o que deixas de fazer. E, quando o assunto é dor ainda é mais fácil de inferiorizar porque és tu que estás a sentir. É a tua dor, tu é que sentes.

Mesmo que hoje o sentimento de impotência esteja em ti: impotência por não conseguires fazer nada a respeito do que aconteceu; impotência por não conseguires fazer nada em relação a ti e à tua dor. Não deixes que a impotência domine a tua vida.

Por muito mal que tudo esteja, o tempo passa e por vezes é a única coisa que nos salva. Não tentes classificar a tua dor, apenas vive-a independentemente daqueles que te rodeiam, e vais ver que sobreviveste a 100% dos teus piores dias.

Inspira. Expira. Há vida para além disso. Acredita.


xx

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