RAUL MINH'ALMA || Foi sem querer que te quis
Atualizado: 22 de nov. de 2020
"As pessoas não sabem a chuva que cai dentro de mim porque a julgar pelo meu sorriso estão sempre dias de sol. Mas eu tenho esta mania de me levantar sempre que caio, que posso eu fazer?"
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"Choro até se vir alguém a chorar. Sou uma espécie de esponja sentimental que me faz sofrer quase tanto quanto a pessoa que tem verdadeiramente motivos para isso. Choro facilmente, mas choro ainda mais por mim. Por dentro, em silêncio e em segredo. Mas sempre com a certeza de que logo a seguir vem um sorriso. Talvez seja por isso choro muito, para logo depois ter ainda mais vontade e motivos para sorrir. E sorrio tal como choro, ou seja, por tudo e por nada."
"Peço os dias de sol porque gosto deles, mas aceito os dias de chuva porque sei que preciso deles."
Este é um romance, mas com respostas a questões do quotidiano. Arrisco-me a dizer que é um livro de auto-ajuda disfarçado de romance. Mas e que belo romance!
Trata-se da história de Beatriz, uma terapeuta ocasional, e de Leonardo, o herdeiro de uma conceituada marca de chocolates. Beatriz é quem dá voz à história.
"Por vezes tudo o que precisamos é de alguém que nos pegue na mão e nos diga baixinho que vai ficar tudo bem. Nunca será o suficiente, nem nunca será uma garantia, mas dá-nos a tranquilidade e a confiança necessárias para que, pelo menos, estejamos mais perto de o conseguir. Mas mais do que ter alguém que nos diga que vai ficar tudo bem, precisamos de alguém que nos diga que lutará connosco como se fosse também uma luta sua."
Tudo começa como um jogo do acaso, em que Beatriz, no meio dos seus dramas de vida, é confrontada com um dos seus pacientes - Nicolau - para que ajude o seu neto - Leonardo - com os fantasmas que o assombram e que não o deixam ser uma boa pessoa. Como recompensa, Nicolau daria-lhe a receita para ser feliz no amor.
Beatriz, como uma pessoa que não consegue dizer que não, aceita o desafio.
"(...) aprendi a dizer se não vens, também não vou. Não por não gostar de procurar, mas por também gostar que me procurem."
São estas vidas distintas que se cruzam, por obra do destino ou não, que leva a que haja mudanças. Mudanças estas que são internas tanto para Leonardo - que é um jovem peculiar de difícil comunicação - como para Beatriz. Estes tornam-se pessoas melhores consigo mesmas e consequentemente preparadas para amar. Desde então vemos todo o desenrolar de uma história cliché. Mas que me surpreendeu pela forma como acabou.
Será que Beatriz e Leonardo estarão destinados a um: e foram felizes para sempre?
"Não temos por natureza o mau hábito de adiar uma cura só porque ela dói. Não admitimos, mas a verdade é que preferimos ir sofrendo devagarinho com a possibilidade do que sofrer muito de uma só vez com a certeza. E é por isso que adiamos tanto. Adiamos porque nos falta coragem para assumir aquilo que é melhor para nós."
Gostei imenso da construção das personagens e o que há por detrás de cada uma delas. Todas elas estão na história com um propósito. Mas a personagem de Leonardo é a que mais intriga, porque foi, efetivamente, uma personagem muito bem conseguida e que sofre uma grande transformação ao longo do enredo.
Beatriz acaba por ser alguém que surge na vida de Leonardo com o propósito de o fazer vencer a batalha que ele trava com os seus próprios fantasmas.
O final, tal como já referi, é surpreendente. Esta surpresa surge, principalmente, pela escrita maravilhosa do autor. No momento em que começamos a ler o capítulo suspiramos de alívio, mas acabamos a chorar com o choque com a realidade que ocorre.
Estamos perante uma escrita viciante, que dá a vontade de ler o livro de uma enfiada. E acima de tudo, há sempre um pressuposto em cada entrelinha que nos deixa a pensar em cada palavra que nem sequer está escrita.
Um livro fascinante, com um bom enredo e com umas quantas frases que levam à identificação do eu.
Mas, afinal existirá mesmo uma receita para o amor?
"(...) Em vez de trabalharmos para sermos ricos, devíamos trabalhar para sermos felizes. Temos um carro sempre disponível, mas não temos um abraço sempre pronto. Temos uma conta recheada, mas um coração vazio. Trabalhamos oito horas por dia, mas não vivemos duas. Somos quem não gostamos de ser para podermos ter o que gostamos de ter. Fazemos tudo, mas não somos nada. Enquanto temermos mais a pobreza do que a infelicidade seremos sempre uma sociedade apenas e nunca uma humanidade."
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